quinta-feira, 30 de abril de 2009

Adeus... E obrigado Paris!

30 de Abril de 2009

Querido "Relier",

E assim termina mais um capítulo da minha vida, sentado, a escrever sobre a mesa da cozinha do apartamento vazio, mas cheio de histórias e de memórias. Aqui, na "Passage de l'ancre", ancorei a minha vida durante 6 meses. E, comigo, muita gente passou por este porto que, em Paris, contudo, sempre foi um "porto seguro".

Algumas das histórias deixei-as aqui escritas, nas tuas folhas, outras, guardo-as na memória e levo-as comigo.
Foste um ombro amigo quando precisei. Um escape de emoções, uma forma de me exprimir. Quando releio as tuas páginas, sorrio. Constato, mais uma vez, que a minha bipolaridade deixou de ser ficção. É um dado adquirido. Só assim se consegue explicar as minhas flutuações de humor. Contudo, e julgo que concordas comigo que, na maior parte das vezes tive razão.

As dificuldades burocráticas, e a barreira da língua foram, sem dúvida, o grande obstáculo. Não obstante, consegui ultrapassá-las. As pessoas do hospital pareciam camaleões. Não por mudarem de cor constantemente, mas por mudarem a sua forma de estar e de ser, em acordo com as suas necessidades. Julgo não ter sentido na pele a xenofobia e o racismo, mas senti-os à minha volta. Senti a necessidade imperiosa de afirmação dos franceses face ao "ser-se francês". Contudo, pessoalmente, não me posso queixar do acolhimento e da "simpatia" (e reforço, aqui, as aspas) que mostraram ter para comigo. O facto é que trabalhei muito e... bem. Caso contrário, não teria tido as palavras de reforço francamente positivas por parte do director.

Deixando o hospital de lado, o que me segurou, verdadeiramente, em Paris, foi a família e os amigos. Sem eles, não teria sido possível. Voltarei domingo para o meu "porto seguro", para junto dos meus, e são eles, meu caro "Relier", que fazem com que tudo valha a pena.
Lembro-me dos primeiros dias em Paris passados com a minha mãe. São inesquecíveis. Foi um relembrar, por parte dela dos tempos que por aqui também viveu, e foi, para mim, uma forma de me sentir acolhido e aconchegado nesta cidade.
Seguiu-se o acampamento de ciganos, com a minha irmã, cunhado e sobrinhos. Foi a festa. Uma alegria. Ainda me lembro do meu sobrinho a dizer que "afinal a Torre Eiffel não é assim tão grande", num dia invernoso, de chuva, e da minha sobrinha, a chorar, com os pés molhados e frios.
Não vou continuar, aqui, a descrever-te todas as visitas que tive. Todas elas foram importantes e ajudaram-me, não só, a passar melhor o tempo, a fazer com que ele passasse mais rápido como, também, a conhecer melhor Paris. Cada um deles apresentou-me um pormenor diferente da cidade, conduziu-me a um restaurante novo, ou mostrou-me um novo monumento.
Assim, agradeço, e deixo-te, aqui, o nome de todos aqueles que mostraram o seu amor e amizade por mim, num sentimento perfeitamente recíproco, com os seus nomes não encriptados, pois que, neste final do 1/60 da minha vida, todos eles merecem ser reconhecidos pela sua verdadeira identidade:

Mãe (Maria do Carmo), Pai (Pedro Nery), Mana (Márcia), Cunhado (Filip), Sobrinho (Ricardo), Sobrinha (Catarina), Mano (Rui), Sua cara-metade (Elena), Neurocirurgiã de família (Elsa), Dra Cardiológa (Catarina), Prima Nice/ Lamivudina (Eunice), La tante (Mª Fernanda Gayo), Prima Rachel (Raquel), Afilhado (João), Minha advogada/Cris (Cristina), Tatiana, Paulo, Alexandra, Sandra Xará, Tio Alfredo, Tia Nela, Pedro Vita, Susana, Inês, Primo/Tio Xico, Dra. Brandoa (Mariana), Claudia e Peter Pan (Pedro).

Não te poderia deixar de dizer, contudo que tu, meu caro "Relier", nunca estarias completo sem os inúmeros comentários que te foram acrescentando, pelo que agradeço a todas essas pessoas, muitas das quais já supracitadas, o seu carinho e acompanhamento que me foram fazendo ao longo destes 6 meses.

Bom, está na hora de partir, com um certo aperto no coração, e os sentimentos à flor da pele. Vou levar a última mala para casa da Inês e, de seguida, vou ao hospital, nem sei bem porquê... Estava com vontade de aproveitar estas últimas horas em Paris, e de muito sol, para me passear, tal e qual um "faneur", por estas ruas e vielas.

Está na hora de te dizer um último adeus.

Pego na mala, olho à minha volta, dirigo-me à porta da rua, saio, olho mais uma vez e... bato a porta.

Obrigado!

Pequena reportagem fotográfica.


A cozinha da "Passage de L'ancre", nº4, 2º andar. Pequena, luminosa, e aconchegante, apesar de não muito funcional. Tem quase tudo o que é necessário. A mãe e La tante fizeram, aqui, esplendorosas refeições. Foram cozinhadas, neste espaço, muitas sopas instantâneas, e muitos crepes com queijo e fiambre. Cheguei, contudo, a fazer repastos bem mais elaborados, com direito à minha primeira mousse de chocolate, à minha primeira açorda de marisco, enfim... Nunca feito de propósito para mim, mas sim e, com muito gosto, para todos aqueles que me visitaram e que fizeram parte deste meu relier a Paris.



Numa última tentativa de captar e absorver Paris, Paris ofereceu-me esta imagem ao fim da tarde. Não é um pôr-do-sol dos nossos, no mar, mas também não está nada mal...



O passeio nocturno levou-me até ao Louvre e Jardin des Tuileries, onde se encontra este arco. A lua ajuda a completar o cenário.



Depois, foi somente voltar a máquina para o lado oposto e "guardar" uma pequena porção do grande museu do Louvre nuns milhões de megapíxeis.



Finalmente, o Budha Bar, na Concórdia. Ponto memorável para a entrada nos 28 anos da Dra Brandoa. Parabéns!

Até já,
bien à vous,
Fil

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A reunião com o director

Não diria a minha mãe, com toda a certeza, há 30 anos e 11 meses atrás, que o seu filho recém nascido estaria, após todo este tempo, prestes a terminar um super estágio de hepatologia num dos hospitais mais conceituados da Europa na área. Como podem ver ou, melhor, ler, o meu animo é outro, e até já deixo de encontrar defeitos em tudo aquilo que me rodeia no hospital onde tenho andado a "dar o corpinho ao manifesto" nestes últimos 6 meses.

Hoje, resolvi marcar um "rendez-vous" com o meu actual e ainda director de Serviço, reunião essa que demorou, nada mais, nada menos, do que uma hora exacta. O objectivo daquela que eu supunha ser uma "mini-reunião" era, precisamente, o de pedir uma carta de recomendações ou, melhor, uma carta de final de estágio, com a apreciação do director.
Mal entrei no seu gabinete (de fazer inveja a qualquer director de Serviço do meu hospital, tal é o tamanho e... a organização, pelo menos, aparente), cumprimentou-me afavelmente, e ofereceu-me um café. Confesso que devo ter hesitado 2 ou 3 segundos, até porque não me apetecia propriamente tomar café, mas aceitei, pela beleza do gesto.
A conversa começou, precisamente, comigo, a fazer o "bilan" do meu estágio, e a responder à pergunta por ele colocada, se os meus objectivos do estágio tinham sido cumpridos. A conversa continuou, com outra questão, sobre o que eu julgava sobre o funcionamento dos serviços por onde passei. Finalmente chegámos à parte da sua avaliação, e ao meu pedido (objectivo final da reunião) da carta de apreciação. O Prof. D. Valla é, de facto, uma pessoa extremamente válida, como ser humano e como "cientista" e, sem dúvida, só tenho pena de não ter tido mais contacto com ele durante este meu período por Paris.

Paris tem mais duas super-médicas, recém chegadas, e cheias de vontade de trabalhar. São elas a Dra Jnes e a Dra Su. A primeira teve, ainda hoje, o seu primeiro contacto com a realidade Beaujonense. E... podia ter sido melhor! Contudo, deve estar altamente influenciada pela minha pessoa (atendendo a que não tenho tomado os comprimidos da manhã, metade das coisas que digo não devem ser levadas a sério...). A segunda (Dra Su), prepara-se, amanhã, para a sua apresentação, física, no Hospital. Não em Beaujon, mas num outro, para um estágio de 3 meses de genética (no âmbito do seu internato em pediatria).
Vieram as duas e a Dra Brandoa jantar cá em casa, um excelente empadão de atum (até eu fiquei admirado com o resultado final!), acompanhado de um Bordeaux trazido pelas meninas, e rematado com uma deliciosa tarte mil frutas (traduzido literalmente do francês) da pastelaria do Monoprix. Que bem que se esteve!

Bom, vou dormir. Estou já na cama, cheio de sono, e com os olhos a fechar. Contudo, tinha de escrever, ainda hoje, umas palavras no Relier.

Bien à vous,
Fil

domingo, 26 de abril de 2009

Querido diário...

26 de Abril de 2009

Caro Relier,

Faltam apenas 4 dias para acabar aquilo que me propus fazer em Paris: o meu estágio de hepatologia. Contudo, não te vou falar, hoje, sobre esse tema. Este intróito no meu diário de hoje tinha como único objectivo, o de dizer que, dentro de 4 dias escreverei, nestas tuas folhas, o meu último diário, e te fecharei à chave para sempre.

O dia de ontem começou cedo, no hospital. Após o almoço, já em casa, e no meu registo habitual do pão com queijo e fiambre como refeição, resolvi deitar "mãos à obra", e começar a limpar os cantos com 6 meses de pó acumulado. Tarefa árdua e, sobretudo, difícil. É nestas alturas que agradeço a brilhante ideia que tive, há cerca de 1 ano atrás, de ter arranjado alguém para me limpar a casa. Pura e simplesmente não fui talhado para isto. Comecei pela casa-de-banho. Apesar do seu metro quadrado de área útil, ainda perdi uma boa meia-hora para tirar meia dúzia de germes que frequentavam esta divisão da casa. Digo-te uma meia dúzia de germes porque, apesar de tudo, sou um ente limpinho e, como tal, nunca deixei que aquela população de bichos pequenos e invisíveis proliferassem de maneira compulsiva.
Colo, nesta página, duas fotografias que concernem esta área da casa. Assim, ficas, pelo menos, com a noção do tamanho (pequeno), da funcionalidade (grande) e do "décor" (simples e bonito) da casa-de-banho.






Passei, de seguida, à limpeza do quarto. Meu Deus! Tanto pó! E tenho, acima de tudo, a teoria, baseada no convívio diário com os ácaros franceses, que o pó, em França, é francamente "pior" do que em Portugal. Por um lado, é constituído de micropartículas, que mais parecem farinha cinzenta. Por outro lado, julgo que, tal como as teorias anciãs que pretendiam justificar o início da vida (não a da sopa primitiva de Oparin e Haldane) com a geração espontânea, o pó, na minha casa, nasce vindo do nada. Não vou recortar aqui nenhuma fotografia do quarto, pois já a colei numa das páginas anteriores.

Cheguei, finalmente, à sala. Aspirei, limpei o pó e, finalmente, pu-la na disposição tal e qual a encontrei quando cheguei cá a casa pela primeira vez no dia 20 de Outubro. Mostro-te, então, as fotografias que tirei, que já imprimi na impressora, que recortei e que as vou aqui colar neste preciso momento.








As minhas lides domésticas, ontem, ficaram por aqui, pelo que deixarei a cozinha para um outro dia (próximo, é certo).

A Dra Brandoa chegou cá a casa cerca das 19 horas. Foi a minha companhia para o resto do fim-de-semana.
Saímos no imediato para jantar, precisamente onde, dias antes, já tinha estado. O restaurante Julien. Este restaurante fica mesmo perto das grandes boulevards, por trás da porte de Saint-Denis. Trata-se de um restaurante da Belle époque, onde se respiram os ares do século passado, num estilo de arte nova. Verdadeiramente belo. Comemos muito bem, uma entrada de arenque fumado, um prato principal constituído por 3 tipos de peixes diferentes e uma sobremesa leve, muito francesa.
Saímos do restaurante e voltámos a casa só, e apenas, para uma mudança de traje, por parte da amiga Brandoa, para a segunda parte da noite. Fomos a pé pela Rue du Rivoli fora, até chegarmos à praça da Concórdia, directos ao famoso Budha bar. Este bar-restaurante é um dos mais conhecidos de Paris e, realmente, foi uma verdadeira ideotice não ter ido lá mais cedo. Tem um estilo asiático, com música lounge. No andar de baixo, as mesas onde as pessoas jantam. No andar de cima, que não é mais do que uma mezzanine, o local onde se conversa e se "bebe um copo". Bebi um "Sun bay @ Miami", muito pouco alcoólico, e com uma mistura de sabores exóticos. Foi servido num copo de 20cl e custou a módica quantia de 17 euros... Julgo, meu caro "Relier", que vou achar tudo muito barato quando chegar ao Porto.

O dia de hoje começou cedo. Não, não fui trabalhar nem, tão pouco, pus o despertador a tocar. A claridade, que já tantas vezes te falei, estimula a minha produção endógena de cortisol, e faz-me acordar. Assim, aproveitei e fui comprar os elementos que me faltavam para o meu último pequeno almoço de domingo.
Saí do prédio, calcorreei as pedras do caminho até à porta de saída da passagem, virei à direita e desci a Rue St Martin. O dia acordou meio cinzento. Não chovia (nem choveu após), mas as ruas estavam molhadas. Fui respirando fundo pelo caminho fora, como se quisesse sentir e guardar os cheiros desta cidade, mas sem grande sucesso. Ora porque já não me lembro dos cheiros, ora porque, dada a hora, ainda não haviam os odores que lhe são característicos, e que são uma mescla de pão, de pó, de suor e de Channel número 5. Pouca gente havia na rua e, aqueles que se faziam passear, transportavam uma baguete debaixo do braço. Cheguei, finalmente, à padaria. Pedi uma baguete, dois pães com chocolate e duas tartes de maçã. Cheguei a casa, e tomámos o pequeno almoço que nem reis!

Depois, bem... Depois, foi altura de nos passearmos. Fomos para os lados de Marrais, e, como não poderia deixar de ser, da Place des Vosges. Está bem diferente, quando comparada com a última vez que lá estive, despida e fria. Está verde, e bem-disposta. As pessoas passeiam pela praça, as crianças correm e os pombos fazem a corte, com o melhor dos seus fatos, às suas respectivas... pombas!
Vou-te deixar aqui, também, algumas das fotografias que fui tirando ao longo da tarde e, como uma imagem vale mais do que mil palavras, por aqui me fico.











Bien à toi,
Fil

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um cheirinho de México, em Paris!

O extase de que falei ontem, deu lugar, hoje, ao cansaço. Por vezes acontece, e é directamente proporcional ao número de horas que se trabalha, e ao tempo que se passa no hospital. Hoje cheguei a casa ainda mais tarde do que o habitual.

Não vou ocupar muito do vosso tempo, nem fazer gastar muita tinta à impressora da minha prima. Hoje tenho um objectivo bem concreto, e vou directamente ao assunto:
SALLE DE GARDE, O ALMOÇO MEXICANO!

Ontem foi um dia diferente na Salle de Garde (não, não puseram colher para comer o iogurte), e resolveram fazer um almoço mexicano. Duvido, contudo, que tudo aquilo que lá comi, ontem, fosse típico do México, mas que lá que era bem condimentado, era...

Mal lá chegámos, e no corredor que dá acesso à sala maior, e onde costuma estar o "cobrador" das refeições, deparámo-nos com uma grande mesa com uma série de entradas, salgados, sumos, vinhos e espumantes. Servimo-nos dos aperitivos e por ali ficámos uns 5 minutos.




Seguimos para a sala e sentámo-nos. Estranhamente, e apesar de já passar um quarto de hora das 13 horas, fomos os primeiros a lá chegar e a tomar o lugar. Começaram, então, a servir as entradas: uma salada (com molho francês) e uns crepes com uma massa mais dura do que a habitual, com camarão e um molho picante. No momento em que comíamos, chegaram 3 verdadeiros mexicanos, trajados a rigor, e começaram a cantar músicas da sua terra. A boa disposição, que já existia ainda antes da sua chegada, melhorou ainda mais, e o almoço foi uma animação.





O prato principal voltou a ser uma espécie de crepe mas, desta feita, maior ainda, com carne e... um molho picante!
A sobremesa foi, também ela, diferente da do habitual: umas rodelas de ananás, fritas, que pareciam uns donuts, e umas taças com gelado de caramelo, molho "do mesmo" e chantilly. Muito bom.
Acabámos o almoço com um café e todos bem dispostos para a demi-journée que ainda estava para vir.

Francamente, gostei! Só é pena não fazerem mais vezes isto. Na realidade, e desde que lá estou, terá sido a segunda vez que serviram uma refeição totalmente diferente da do habitual. A outra, foi no Natal, quando serviram lagosta...

Amanhã é dia de trabalho e, depois, fim-de-semana de repouso, o último em Paris desta minha "aventura", e onde irei tentar desfrutar do mau tempo que se prevê fazer sentir, para visitar as exposições que já estavam programadas para o fim-de-semana anterior.

Entretanto, La tante, já está a fazer o caminho de regresso ao nosso Portugal. E eu... estou quase!

Bien à vous,
Fil

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Alguns tópicos de hoje para melhor serem explorados amanhã...

Caros amigos (permitam-me esta proximidade que o tempo de longevidade deste meu "Relier" assim o permite), acabei de chegar a casa de mais um dia com um misto de trabalho e lazer.

Não vos vou fazer uma descrição integral da minha jornada, pois o adiantado da hora assim não o permite. Vou apenas deixar, aqui, uns pequenos pontos para memória futura, e que espero que ainda venham a servir de mote para mais uns "posts".

O dia de trabalho foi em tudo igual aos outros, com as mesmas rotinas e a mesma solidão no tomar de atitudes, à qual já me habituei, e à ausência da qual vou estranhar quando voltar ao meu hospital, no Porto, já dentro de uma semana. Aqui em Beaujon faço tudo o que julgo que devo fazer e, neste momento, sem qualquer vigilância ou presença, seja ela física ou espiritual, de alguém hierarquicamente superior (e lá foi mais um chocolote "Palets d'or" da Bernachon pela guela abaixo). Seja em atitudes pura e simplesmente médicas, ou mais técnicas, como meter catéteres centrais, entubar doentes, colocar drenos torácicos, fazer biópsias, punções lombares, enfim... Seja como for, estou em estado de extase desde que vim do meu fim-de-semana de Páscoa, do Porto, e com uns dias que se têm passado rápido.

A meio da jornada de hoje, que é como quem diz, à hora do almoço, tive (assim como os outros colegas com quem fui almoçar) uma surpresa na Salle de Garde. Deixarei este tema para mais tarde, já que tirei algumas fotografias que merecem o respectivo comentário e uma descrição daquele que foi o almoço melhor, em termos de boa disposição, que alguma vez tive, na Salle de Garde.

O dia terminou com um jantar. La tante vai embora amanhã e, como não poderia deixar de ser, fomos jantar fora, a um restaurante muito giro, que também irei referir mais tarde. Cheguei agora a casa, após uma "soirée" muito bem passada!
Entretanto, já estou sem mais uma mala e a árvore de Natal, além do meu super-computador que já foi "descpachado" há mais tempo.

Por aqui me fico que já é tarde e amanhã é dia de trabalho.

Bien à vous,
Fil

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O post número 100, no meu 6º mesário em Paris!!!

Longe de mim imaginar, há qualquer coisa como 6 meses atrás, que hoje, precisamente na data do meu 6º mesário em Paris, estaria a escrever-vos o post número 100 do "Relier"?!

Pois bem, utilizo a data para, finalmente, vos dar a conhecer, numa série de episódios, o meu palacete de 34 metros quadrados, de que já muito vos tenho falado.
Situa-se bem no centro da cidade, no 3ème arrondissement, muito perto do 4ème. Na realidade, basta atravessar a rua. Sabe, quem já cá esteve, e quem esteve atento ao "Relier" desde o início, que se situa na Passage de l'ancre, que comunica com a Rue de Turbigo nº30 e a Rue de St Martin nº223. Marcando os códigos respectivos da porta da passagem e do "batiment", subindo até ao segundo andar por umas escadas velhas, em madeira, pintadas nos lados de azul cobalto, e das quais se projectam umas varas de ferro pintado a cinza rato para um corrimão, também ele, em madeira, dão, no imediato, com a porta do meu apartamento.
Não, não vou começar pelo início mas sim, como fiz tudo ao contrário, deixarei a entrada da casa para o último dia, fechando a porta e, assim, o "Relier".
Portanto, começo por vos falar do quarto, esse mesmo, o que fica na ala oeste da casa.

O quarto é espaçoso, com a parede de fundo pintada de um lilás repousante (já estava assim pintado quando cá cheguei, não tenho culpa...). A servir de cabeceira da cama, uma projecção da parede, em pladour, que serve, também, como mesinha de cabeceira. Neste momento tem os elementos que tinha no início, quando cá cheguei (livros sobre a cidade de Paris, dicionários inglês-francês-inglês, e dois candeeiros Ikea - sendo que cada um deles já teve de levar lâmpadas novas desde que cá estou) e, ainda, umas fotografias da família que trouxe de Portugal para "matar saudades". A cama, essa, também ela, com toda a certeza, da marca sueca, confortável, que o diga quem por já cá dormiu. Do lado direito, uma porta: a casa de banho. Do lado esquerdo, duas janelas que teimam em deixar entrar a luz bem cedo, pela manhã, sinal de que o Verão está aí a chegar e que o sol sucede à lua todos os dias. O pormenor do tecto irão vê-lo quando vos apresentar a sala, mas vos adianto que, além do pladour, fazem parte do décor, umas traves de madeira, completamente toscas e todas perfuradas como se tivesse tido uma praga de térmitas no passado.
Foi neste quarto que tive o meu super-computador (aquele que tinha um super-gnomos), e foi ele que me serviu de janela para o resto do mundo, nomeadamente para Portugal, atendendo às inúmeras chamadas, diárias, feitas pelo Skype.

Deixo-vos, então, com uma fotografia do quarto.



Hoje o dia foi sendo bem passado, sem intercorrências em particular. Continuo dono e senhor dos intensivos, sendo que tenho que aguentar com todo o trabalho e todos os doentes, dado que a outra interna foi de férias. Nâo é exagero quando vos digo que vi a especialista de manhã, à hora do "staff" conjunto com o outro serviço de cuidados intensivos de cirurgia, e à hora do almoço, na salle de garde. Pas mal, pas mal...

La tante chegou! Chegou ontem a Paris, vinda de uma passagem por Lyon onde visitou uns amigos. Está por cá, bem pertinho de minha casa mas, desta vez, não ficou por cá. Jantei com ela ontem e jantarei também amanhã. Hoje, devido a compromissos profissionais, no sentido em que tenho que terminar um artigo, não pude estar com ela.

Assim termino,
bien à vous,
Fil

sábado, 18 de abril de 2009

A avó!

Lá fora a chuva cai, e a nostalgia volta a rodear-me como uma manta de malha feita pela avó, que aconchega, mas deixa passar algum do frio que entra pela janela aberta da cozinha, através dos inúmeros pequenos buracos desenhados por um dos mil pontos que ela tão bem sabia fazer.

A minha avó era uma pessoa especial, pelo menos para mim, enquanto neto. Fecho os olhos, e sou perfeitamente capaz de vislumbrar, ao pormenor, o papel de parede de cornucópias castanhas num fundo beje, as mesinhas de cabeceira, uma delas, a do lado esquerdo, na primeira gaveta, cheia de fotografias, umas a preto e branco, outras a sépia, e poucas a cores. Da outra mesinha de cabeceira lembro-me do chá de limão pousado quando a minha avó vinha para a cama dormir. Lembro-me de dormir com a minha avó e de me saber bem. Recordo-me da perseana entreaberta que me fazia despertar ligeiramente mais cedo.

A casa da minha avó era um porto-seguro, onde as pessoas se sentiam bem. Durante muitos e bons anos, teimava em fazer o almoço para os filhos e netos que lá quisessem ir e recordo-me, com saudade, do almoço de sexta-feira. Era certo e sabido que, se algum dos meninos não quisesse o menu principal, tinha direito, sempre, a um bife com batatas fritas e um "ovo a cavalo". Que bom!

Lembro-me dos encontros entre as irmãs (a minha avó e as suas duas irmãs) lá em casa: "as chazadas"!. E lá dizia a minha avó "nunca menos de 3, nem mais de 7". Isto é, quem bebe chá nunca deve beber menos de 3 chávenas, nem mais de 7. Não me perguntem porquê. Era um dogma e continua a sê-lo, até que algum cientista resolva fazer um estudo duplamente cego, randomizado, aleatório que venha dizer o contrário.

Recordo-me de fazer um presépio, em barro, para a minha avó. E de ela me ensinar muitas coisas, nomeadamente na arte de bem fazer doces. Se numa receita de um bolo qualquer estiver explícita a utilização de 4 ovos, devemos utilizar 5. Nunca se deve mexer o bolo para um dos lados e depois para o outro, caso contrário, o bolo, "desanda" (não me perguntem o que é que isso significa, pois não sei mas, por receio que o bolo "desandasse", nunca o fiz). O "creme brülé" que faço segue as regras do da minha avó, que são, basicamente, nenhumas, e que fica sempre bem.
Agora, vejo a minha mãe a fazer o mesmo aos seus netos.

São estas coisas que nos ficam na memória. E, no final de contas, avó é sempre avó desde que, naturalmente, se tenha portado como tal!

Não sei porque é que resolvi tocar no assunto. Não era meu fito fazê-lo, pois nem tinha pensado no tema para o "post" de hoje.
Acho que, de vez em quando, fazemos planos e depois, por qualquer motivo, deixam de fazer sentido ou, pura e simplesmente, caem por terra, tal é a força da gravidade...

Já não sei o que digo.

Apesar da chuva vou sair, apanhar ar e comprar um filme a uma das banquinhas das inúmeras lojas em frente ao Georges Pompidou.

Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tudo fica bem quando acaba bem!

Já de banho tomado, pijama vestido e sentado na cama, vos escrevo, desta feita no meu "velhinho" computador, de teclado QWERT, o qual nunca deveria ter abandonado, dada a dificuldade que agora encontro para não me enganar nas teclas e, pasmem-se, nos acentos.

Este fim de dia foi, sem sombra de dúvidas, uma surpresa. Na realidade, já se vislumbrava algo de diferente, dado o convite feito por uma "externe" (que é como quem diz, uma aluna), endereçado a mim e à minha colega Búlgara, para irmos todos jantar a um restaurante Tailandês. Este convite já havia sido feito há muito tempo mas, confesso, a vontade não era muita. Assim, e pela falta de dias para combinar esse mesmo jantar antes do meu regresso a Portugal, decidimos fazer o jantar hoje. Ponto de encontro: 20h na estação de metro de Etienne Marcel (aqui bem pertinho de casa).

Contudo, ao sair do hospital, resolvi ligar à minha irmã, nessa altura, em viagem, saída de Portugal e rumo à Bélgica. Bendita a hora em que o fiz, pois combinámos, quase no imediato, um rendez-vous para jantar em Paris. Claro está que a opção foi pelo jantar familiar, tendo eu enviado uma mensagem à minha colega a dizer o seguinte: "Désolé une autre fois, mais ma soeur vien diner avec moi à Paris! Génial! Elle vien de m'appeler. Bisous et à demain!". Claro está que a parte do "Désolé une autre fois" deve-se ao facto deste jantar ainda não se ter feito antes, também porque, nesse dia, já havia marcado um "rendez-vous" com a Dra Brandoa.

Cerca das 20 horas e 30 minutos, recebi uma chamada da minha irmã, com uma voz que expressava um misto de cansaço, desilusão, frustração e raiva. Estavam eles a estacionar o carro (que vem, nestas alturas de grandes viagens, de mala no tejadilho) no parque, quando verificaram que a viatura estava demasiado alta para entrar na garagem. O problema colocou-se quando o meu cunhado teve de fazer "marcha-atrás" com o carro já no final da rampa, com uma inclinação francamente acentuada e estando, o carro, com uma tara elevada. O carro aqueceu, aqueceu, aqueceu e a embraiagem cedeu no final da manobra. Conseguiu estacionar o carro num lugar no exterior do parque, sempre em primeira velocidade, e com um odor a queimado que nem o tradicional "créme brülé" consegue exceder. O guardar o carro na garagem propocionava duas coisas distintas: a primeira, um lugar seguro para estacionar o carro, no sentido em que o mesmo estava cheio de haveres, a segunda, a possibilidade de pernoitarem na minha humilde casa, e prosseguirem viagem amanhã de manhã rumo ao seu domicílio.

Fui ter com os quatro viajantes ao largo onde estacionaram o carro e vi as suas caras cansadas, com uns olhos extenuados de quem estava em viagem desde as 4 horas da manhã.
Contudo, fomos jantar a St Germain, respirar um bocadinho a brisa desta cidade e quase "saborear" o ar a férias, quanto mais não seja, das férias dos outros!

Regressados à Passagem, foi o tempo de empacotar o computador no seu grande recéptaculo de cartão, arranjar um espaço na mala do carro da minha irmã, e despedir-me.
Despedir-me destas pessoas que me são tão queridas, dizendo um até breve já que, de amanhã a 15 dias lá estarei eu, na Bélgica, a preparar o meu regresso a Portugal.

Ficaram-me, no ouvido, as palavras dos meus sobrinhos, na hora do adeus: "Gosto muito de ti, tio!".

Digam lá se não merecem tudo!
Neste momento, ainda estão em viagem.

Bien à vous,
o vosso,
Fil

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Adivinhem quem vem jantar...

... A mana!!! Acompanhada, claro esta, do seu companheiro deste ultimo terço da sua vida e das suas duas crias.
Saiu de Portugal de madrugada e, a caminho de sua casa na Bélgica, resolveu (e bem!!!) passar por Paris. Assim, aguardo-a ansiosamente.

Vou arrumar a casa e fazer a minha primeira mala.

Ja so faltam 12 dias de trabalho... 12 dias...

Bien à vous,
Fil